Acabo de voltar de Recife, onde passei uma semana quente, calor intenso, delicioso. Fui a trabalho, o que não me permitiu conhecer - pela enésima vez...- a Praia de Carneiros, logo depois de Porto de Galinhas. Mas Recife é mais do que as praias, é uma terra onde tudo é pujante e superlativo - desde as belezas até as mazelas. Mas é na gastronomia que esta cidade se revela...Fomos jantar no restaurante Camarada, próximo à nossa loja, para comprovar - neste restaurante é feita a melhor empadinha de camarão do mundo! Uma massa suave, desmanchando, revelando o interior cremoso e farto de grandes camarões. Como o restaurante é especializado neste crustáceo, repetimos um pedido anterior - um imenso prato de Camarões na Cerveja, no ponto perfeito, coberto por cebolas e em porção generosa. O serviço é impecável, dos melhores do Nordeste - atencioso e presente na medida. E o preço? Pagamos módicos
R$ 75,00 - para duas pessoas!
Almoçamos no Restaurante Leite, onde fomos atendidos por Bigode em pessoa, e comi uma costelinha de porco com farofa matuta de comer rezando. De sobremesa - Cartola, a melhor da cidade (qualquer dia ensino a fazer este doce de banana com queijo-manteiga). Ainda fomos no Beijupirá, no Spettus (uma verdadeira orgia de lagostas e camarões - acho que consumi meio oceano destes bichinhos...) e outros lugares entre o correto e o perfeito.Mas o que não posso deixar de comer naquela cidade é o Mungunzá, ou Munguzá - ou Manguzá. É na verdade uma comida ritual votiva, de Santo, pertinente aos orixás. Trata-se de um alimento feito de milho, leite de coco, leite fresco e canela, simples e despretencioso. Mas é daquelas comidas que aquecem a alma e amolecem o espírito. No sul/sudeste, é chamada de Canjica, porém feita com milho para canjica branco. Lá, os grãos amarelos ressaltam num caldo branco leitoso, remetendo imediatamente à uma comida feita por mães, anterior aos termos cozinha molecular, tecno-emocional ou outros termos deste quilate. Aliás, em magnífico contrasenso, nada mais emocional do que um prato morno de canjica com canela polvilhada. É um prato tão revigorante e, ao mesmo tempo tão lenitivo, confortável, que deveria ser servido em altas cúpulas, nas discussões entre as potências mundiais, propiciando a seus líderes a oportunidade de enxergar questões maiores sob o ponto de vista apolítico, e apenas sob a ótica humanista. Mungunzá for all!!
Mungunzá, Munguzá, Manguzá
500 gramas de milho amarelo para canjica
300 ml de leite fresco
200 ml de leite de coco
2 xícaras de açúcar
1 xícara de coco fresco ralado
1 colher de sopa de manteiga2 canelas em pau
4 a 6 cravos
Deixe o milho de molho em água durante 8 a 12 horas. Escorra, lave e coloque para cozinhar na panela de pressão com água suficiente, por 30 minutos. Espere esfriar um pouco, adicione o leite fresco, o açúcar, o leite de coco, a canela em pau e os cravos. Cozinhe mais 8 minutos sobre fogo baixo, acrescente a manteiga, o coco ralado e cozinhe por mais 10 minutos. O milho deverá ficar macio, porém sólido, sem desmanchar. Polvilhe canela ao servir. Pode ser servido frio ou gelado, mas morninho é ...pecaminoso, de tão bom!